terça-feira, outubro 16, 2007

O peixe-boi anão

Esta criatura adorável é um peixe-boi anão, um manatim da Amazónia brasileira. Na Amazónia já era conhecida uma espécie de peixe-boi, o Trichechus inunguis, com 2.5 a 3 metros de comprimento e 350 a 500 kg de peso. O peixe-boi é na verdade um mamífero de um grupo conhecido por sirénios. É isso mesmo, estamos a falar de sereias na Amazónia. O animal aqui ao lado, por incrível que pareça, é um adulto, com 1.3 metros de comprimento e 60 kg de peso. O animal foi "descoberto" por Marc van Roosmalen, que submeteu um artigo onde o considera uma nova espécie, mas o artigo ainda não foi publicado, pelo que para já não vou avançar com o nome proposto para a criaturinha. Agora o que me espanta nesta "descoberta" é que o animal é bem conhecido pelas populações locais, que lhe chamam simplesmente "pretinho". Aliás o crânio-tipo que Marc van Roosmalen usou para definir a possível nova espécie proveio de um animal consumido por seres humanos. Isto levanta alguns problemas, pois o animal só é conhecido das águas do rio Arauazinho, e deverão existir pouco mais de 100 destas criaturas. Para quando uma expedição científica de grande envergadura para investigar casos deste tipo? Afinal basta perguntar aos moradores.

7 comentários:

João Carlos disse...

A primeira vista, espantoso. Mas eu contraponho que minha prima e afilhada e sua turma de formandos da Universidade Federal Fluminense em Biologia Marinha, descobriu quatro espécies, até então desconhecidas, de moluscos nos manguezais da Baía de Guanabara!

Agora, imagine o que ainda deve ser desconhecido em uma região vasta e despovoada como a Amazônia...

Caio de Gaia disse...

O que este exemplo mostra é que antes de se ir para zonas despovoadas conviria começar por falar com as populações locais e fazer listas dos animais que conhecem.

Descobrir uma nova espécie de mamífero é algo raro. Em particular algo que não seja um roedor ou morcego.

João Carlos disse...

Percebo... Mas por que a ressalva sobre roedores?... São tão "mutantes" assim?

Caio de Gaia disse...

Conhecem-se um pouco menos de 2300 espécies de roedores (não extintas), e cerca de 1100 espécies de morcego. Atendendo a que existem apenas qualquer coisa como 5400 espécies de mamíferos (incluindo marsupiais e monetrómatos) esses dois grupos possuem mais de 60% das espécies de mamíferos!

Quanto aos sirénios, a confirmar-se ser uma nova espécie, haverá 5, duas das quais no Brazil.

João Carlos disse...

Bom... Explico o motivo da pergunta: recentemente foi descoberto, na Reserva Ambiental de Poço das Antas (em Casemiro de Abreu, RJ), uma nova espécie de roedor minúsculo... Então me bateu a dúvida: existem mesmo miríades de espécies de roedores, ou serão os roedores uma espécie com grande capacidade de apresentar novas mutações?...

De sua resposta, me parece que ambas as probabilidades são corretas. Existem miríades de espécies, o que, por si só, indica que os roedores têm uma capacidade enorme de mutação.

Vandre Fonseca disse...

Com todo o respeito pelo Roosmalen, mas pouca gente acredita nesta nova espécie de peixe-boi. Especialistas em mamíferos aquáticos do Inpa, que estudam o bicho, dizem que não se trata de nova espécie.

Caio de Gaia disse...

Vandré, a questão do que é ou não uma nova espécie pode ser mais complicada do que parece. Basta pensar nos coiotes e nos lobos. O isolamento reprodutivo baseado no tamanho ou no comportamento pode muitas vezes preceder a verdadeira divergência genética.

A questão é se o peixe-boi anão cai fora da variação observada nos peixes-bois que lhe estão aparentados. A partir daí a coisa é mais arbitrária e mesmo política. Mas se os especialistas do Inpa estão tão seguros é porque é capaz de existir um contínuo entre as populações. Há que esperar pelos artigos, vai ser uma controvérsia interessante.

Eu gostaria de ver o bicho identificado como nova espécie porque isso implicaria um esforço de protecção maior.