segunda-feira, outubro 08, 2007

Nem sempre uma escama longa é uma pena

De volta ao enigmático réptil descoberto por Sharov na década de 1960, ou mais exactamente às coisas que o bicho tinha nas costas. O Longisquama era um animal pequeno, que viveria uma vida provavelmente arborícola alimentando-se de insectos nas florestas da Ásia cerca de 220 milhões de anos atrás. O mundo do Triásico em que o Longisquama insignis vivia era povoado por outros répteis fantásticos, como o Sharovipteryx mirabilis de que falei há pouco tempo, e de outros seres igualmente bizarros conhecidos como lagartos-macacos, de que falarei proximamente. Para já vou falar da controvérsia em relação às hastes que lhe saíam das costas. A discussão não demorou muito a passar para a literatura científica. Uns meses depois do artigo que dizia que as estruturas eram penas semelhantes às das aves modernas, saíu um artigo, baseado exactamente nos mesmos vestígios, a dizer que aquelas coisas de penas não tinham nada. [... ler mais]

O artigo que diz que o que se vê nas costas do Longisquama não são penas é da autoria de Robert Reisz e Hans-Dieter Sues e foi publicado na revista Nature (ref1). Numa tradução livre do resumo:

Os apêndices dorsais alongados do réptil Longisquama insignis do Triásico do Quirguistão, foram reinterpretatados recentemente como sendo o primeiro registo de penas num tetrápode não aviano — precedendo por grande margem as penas da mais antiga ave conhecida, o Archaeopteryx. Apresentamos aqui evidência de que as escamas dorsais do Longisquama não são penas, e que elas são de facto marcadamente diferentes de penas avianas. Concluímos que o Archaeopteryx permanece o mais antigo tetrápode conhecido com penas.

Não vou entrar em detalhes, os autores dizem que o veio que se vê nas estruturas do Longisquama não se assemelha à haste de uma pena e que as extremidades distais das estruturas não têm nada a ver com as das penas. Este trabalho baseia-se exactamente no mesmo fóssil que o trabalho anterior. Não deixa de ser impressionante como as conclusões podem ser tão antagónicas. Mas as reacções não se ficaram por aqui nem as respostas. Amanhã há mais.

Ficha técnica
Imagem de fóssil de Longisquama a partir do trabalho de Alexander Sharov, obtida nas páginas do seu filho Alexei Sharov.

Referências
(ref1) Robert R. Reisz and Hans-Dieter Sues (2000). The 'feathers' of Longisquama. Nature 408, 428. doi:10.1038/35044204.

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