quinta-feira, outubro 11, 2007

Colidir com um alce

Este é um sinal rodoviário que se pode encontrar com alguma frequência na Terra Nova, no Canadá. Não é um aviso qualquer, mas sim algo a que convém prestar mesmo muita atenção. No sinal podem ver um carro desfeito e ao lado a silhueta imponente de um alce (espécie Alces alces). A imagem do alce incólume e do carro destruído dá uma ideia daquelas cenas típicas de desenhos animados, em que ninguém se magoa, só que as coisas não são bem assim. Os embates com automóveis são muito perigosos, quer para os alces, quer para os humanos. Algo que confirmei ao encontrar alguma literatura sobre o tema, em sueco. Mais especificamente, encontrei um relatório sobre testes do comportamento de diversos modelos de automóveis em embates com alces. Claro que nesses testes os suecos não usam animais vivos, recorrem a "bonecos", mas os estragos são semelhantes aos de um alce verdadeiro. [... ler mais]

O trabalho sobre os testes de embate com alces é da autoria de Ylva Matstoms e faz parte de uma série de relatórios designada VTI meddelande (ref1). Está quase tudo em sueco mas há um pequeno resumo em inglês. A partir desse resumo é fácil perceber o que está em jogo. Na Suécia, em cada ano, cerca de 80 pessoas morrem, ou são feridas com gravidade, em acidentes envolvendo alces. No resumo em inglês não referem as baixas no lado dos alces, mas suponho que sejam em número muito mais elevado.

O álcool não é,em geral, uma causa destes acidente. Os condutores humanos envolvidos nestas colisões estavam em geral sóbrios, e suponho que os alces também. A maioria dos embates ocorre em estradas públicas, com um limite de velocidade de 90 km/hora, com o alce a aparecer de forma súbita e inesperada, não dando ao condutor tempo para se desviar, ou mesmo travar a viatura. Numa colisão com animais pequenos, os bichos batem no pára-choques do carro e são projectados. Isso não sucede com um alce. Um alce é um pouco como ter um barril de mais de meia tonelada em cima de umas andas. Face a automóvel de passageiros de tamanho normal, as pernas do alce ficam ao nível do pára-choques e o corpo do animal ultrapassa em altura o tejadilho do carro.

Eis aqui um esquema dos primeiros 60 milissegundos de uma colisão típica:

Nos primeiros instantes de um embate o infeliz alce fica de imediato com as pernas partidas, mas muito pouca energia é transferida do veículo para o corpo do animal. O verdadeiro impacto não é com o pára-choques do automóvel, mas sim com o pára-brisas, a parte estruturalmente mais fraca do veículo.

Como o alce acaba muitas vezes por esmagar o tejadilho, e lançar o pára-brisas na direcção dos ocupantes, nem mesmo o airbag e cintos de segurança ajudam por aí além num acidente destes. Daí o interesse em fazer testes de colisão. O modelo que os suecos usam é uma coisa, com o tamanho e peso aproximados de um alce, suspensa a uma altura corrpespondente ao corpo do animal.

Eis aqui o resultado de um dos testes dessa coisa chamada "Alce II".

O carro ficou bastante destruído. Mas não se pense que o modelo exagera os efeitos das colisões. Eu sabia que tinha visto algo relativo a este tema, alguns anos atrás. Após procurar um pouco na minha caixa do correio, encontrei referência a umas imagens, que circulavam por volta de 2004, sobre um acidente envolvendo um alce. Infelizmente, os endereços onde se encontrariam as imagens já não tinham nada lá. Contudo na internet nada se perde e, após pesquisar um pouco, lá encontrei o que queria. As imagens podem ser vistas aqui. O mais supreendente é que a senhora que ia no automóvel escapou apenas com ferimentos ligeiros.

Todo este enredo de alces e automóveis tem a ver com um estudo científico recente. É uma história de alces que procuram a vizinhança das estradas. Será que são suicidas? Tudo será revelado na próxima contribuição.

Ficha técnica
Sinal rodoviário obtido via Wikimedia Commons.

Referências
(ref1) Ylva Matstoms (2003). Evaluation of the moose dummy Mooses II with a view to consumer guidance. VTI meddelande 955. PDF (em sueco).

1 comentários:

João Carlos disse...

Ainda na espreita pela conclusão da historieta, registro as boas risadas que o trocadilho (intraduzível) "Mooses", do nome do "boneco" me proporcionou.