segunda-feira, setembro 03, 2007

Os pinguins gigantes do Peru

Esta é uma ilustração de espécies de pinguins peruanos, passadas e presentes. Da equerda para a direita temos o Perudyptes devriesi, Spheniscus humbolti, e Icadyptes salasi. Apenas a espécie do meio existe actualmente. Os outros animais extinguiram-se há muito tempo atrás. O pinguim mais à esquerda teria um pouco menos de 90 centímetros de altura, o que deixa antever que o animal da direita era mesmo muito grande. Se pudéssemos recuar no tempo até à costa do Peru, 36 milhões de anos atrás, esse pinguim seria quase capaz de nos olhar drectamente nos olhos, é que tinha mais de um metro e meio de altura. Conheciam-se duas espécies de pinguins maiores que esta (extintas há muito tempo) mas bastante mais incompletas e vivendo mais a sul. Os pinguins fósseis agora descobertos supreendem não apenas pelo tamanho gigante de uma das espécies, mas porque não se esperaria encontrar pinguins nos trópicos, a apenas 15 graus do equador, durante um dos períodos mais quentes do passado recente da Terra. [... ler mais]

Julia Clarke e colegas descrevem as duas espécies de pinguins peruanos num artigo nos Proceedings of the National Academy of Sciences (ref1). Numa tradução livre do resumo:

Novos fósseis de pinguins do Eoceno do Peru forçam um reavaliação de hipóteses precedentes no que que se refere ao papel causal das mudanças climáticas na evolução dos pinguins. Tem sio proposto repetidamente que os pinguins se originaram a latitudes elevadas no sul e que chegaram às regiões equatoriais há relativamente pouco tempo (qualquer coisa como 4.8 milhões de anos atrás), bastante depois do começo do mais recente arrefecimento global do Eocénico/Oligocénico e do aumento do volume do gelo nos pólos.

Como as frases anteriores deixam antever mesmo sem o tamanho gigantesco de um dos animais a descoberta teria já o seu quê de surpreendente:
Em contraste, novas descobertas do Eocénico médio e tardio do Peru revelam que os pinguins invadiram baixas latitudes mais de 30 milhões antes do que os dados anteriores sugeriam, durante um dos intervalos mais quentes do Cenozóico.

A Terra na altura em que viveram estas espécies de pinguis era bastante mais quente que hoje, e a própria Antártida não se encontrava coberta de gelo. Contudo deve notar-se as águas desta região da costa do Peru seriam, provavelmente, mais frias do que o são hoje.
A fauna diversificada inclui duas novas espécies, aqui relatadas a partir de dois dos melhores examplares de pinguins do Paleogénico jamais recuperados. A análise filogenética mais completa dos Sphenisciformes feita até à data, combinando dados morfológicos e moleculares, coloca as novas espécies fora da radiação das espécies de pinguins existentes (clado: Spheniscidae) e apoia duas dispersões distintas para regiões equatoriais (paleolatitude aproximadamente 14°S) durante condições de efeito estufa na Terra.

Basicamente trata-se de ramos extintos da árvore filogenética dos pinguins. As espécies de pinguins existentes hoje em dia partilham um antepassado comum mais recente entre elas do que qualquer delas partilha com estes antigos habitantes peruvianos. Mas os antigos habitantes do Peru representam também ramos bastante distintos entre si.
Uma das novas espécies, Perudyptes devriesi, encontra-se entre as mais profundas divergências dentro dos Sphenisciformes. A segunda, Icadyptes salasi, é o pinguim gigante (mais de 1.5 metros de altura em pé) mais completo jamais descrito. Ambas as espécies fornecem informação crítica sobre a osteologia craniana dos pinguins antigos, tendências no tamanho corporal, e sobre a evolução da barbatana dos pinguins.

Confesso que depois das preguiças marinhas do Peru, de que já falei aqui, a existência de pinguins gigantes, também no Peru, não me surpreende por aí além.

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Referências
(ref1) Julia A. Clarke, Daniel T. Ksepka, Marcelo Stucchi, Mario Urbina, Norberto Giannini Sara Bertelli, Yanina Narváez, and Clint A. Boyd (2007). Paleogene equatorial penguins challenge the proposed relationship between biogeography, diversity, and Cenozoic climate change. PNAS, vol. 104, no. 28, 11545-11550. DOI:10.1073/pnas.0611099104.

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