segunda-feira, setembro 03, 2007

Os pinguins que mudaram de dieta

Não, esta imagem não significa que vou voltar a falar da mecânica de fluidos envolvida nos dejectos dos pinguins. Hoje vou referir alguns aspectos da história destas aves nos últimos milhares de anos. Os pinguins de Adélia (Pygoscelis adeliae) consomem habitualmente grandes quantidades de krill, que é um dos alimentos mais comuns na sua dieta. Parece no entanto que basear a dieta fundamentalmente no krill se trata de um hábito recente, coisa de há cerca de 200 anos. Ora o que sucedeu há cerca de 200 anos que possibilitou aos adélias incluirem o krill de forma tão abundante nas suas dietas? Tem tudo que ver com os hábitos predatórios de uma espécie que devastou as águas da Antártida, eliminando os outros comedores de krill. Como já adivinharam trata-se de um resultado da actividade humana. [... ler mais]

O artigo que documenta a mudança abrupta nos hábitos alimentares dos pinguins é da autoria de Steven Emslie e William Patterson e foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Science (ref1). Numa tradução livre do resumo:

Valores estáveis dos isótopos de carbono (δ13C) e azoto (δ15N) no sangue, penas, cascas de ovos, e ossos têm sido utilizados em estudos de aves marinhas desde os 1980s, fornecendo uma valiosa fonte de informação sobre a dieta, padrões de alimentação, e comportamento migratório nessas aves. Essas técnicas podem também ser aplicadas a material fóssil quando a preservação de osso e outros tecidos é suficiente. Escavações de colónias abandonadas do pinguim de Adélia (Pygoscelis adeliae) na Antártida fornecem muitas vezes vestígios bem preservados de osso, penas, e cascas de ovo datadas de centenas a milhares de anos antes do presente. No que se segue paresentamos uma série temporal de aproximadamente 38,000 anos de valores de δ13C e δ15N de cascas de ovos de pinguins de Adélia provenientes de colónias localizadas em três regiões importantes da Antártida. Os resultados indicam uma mudança abrupta para presas abaixo na cadeia trófica nos últimos 200 anos. Sugerimos que os pinguins só recentemente começaram a recorrer ao krill como uma porção maior da sua dieta, em conjunção com a remoção das baleias e focas comedoras de krill durante o período histórico da caça à baleia. Os nossos resultados apoiam a hipótese do "excesso de krill" que prevê um excedente na disponibilidade de krill no Oceano do Sul durante este período de exploração.

Os seres humanos modificaram dramaticamente muitos dos ecossistemas ditos naturais, nem mesmo a Antártida escapou.

Ficha técnica
Imagens de pinguins cortesia de Stan Shebs via Wikimedia Commons, aqui.

Referências
(ref1) Steven D. Emslie, William P. Patterson (2007). Abrupt recent shift in δ13C and δ15N values in Adélie penguin eggshell in Antarctica. PNAS vol. 104, no. 28, 11666-11669. DOI:10.1073/pnas.0608477104.

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