segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Regresso aos mamutes

O ano de 2006 parece ser de facto o ano do mamute. Para além dos dois artigos citados na semana passada, um outro artigo recente focou também o genoma do mamute. Mas este artigo não se debruçou sobre o ADN mitocondrial mas sim sobre o material genético do núcleo da célula, isto é, os genes que de facto determinam as características físicas do animal. [... ler mais]

Um artigo de Hendrik Poinar e colegas na revista Science de Janeiro (ref1), apresenta este trabalho revolucionário. Numa tradução livre do resumo:

Sequenciámos 28 milhões de pares de bases de ADN numa abordagem metagenómica usando uma amostra de mamute lanudo (Mammuthus primigenius) obtida na Siberia. Graças à preservação excepcional da amostra e à utilização de uma nova cadeia de reação de emulsão de polimerase e técnicas de pirossequenciação, identificámos como sendo ADN de mamute 13 milhões de pares de bases (45.4%).
Os termos técnicos algo complicados descrevem apenas o nome dado a este tipo de técnicas que se destinam a reconstruir o genoma a partir de pequenas amostras fragmentadas, e contaminadas por ADN de organismos do solo, e dos próprios investigadores. O importante é a quantidade gigantesca de informação que se conseguiu extrair. No ADN mitocondrial investigado pelos autores dos outros artigos tratava-se de identificar apenas 16,000 pares de base. No núcleo duma célula a quantidade de informação é muito maior: com estes 13 milhões de pares de bases os autores do artigo conseguiram reconstituir apenas cerca de 1% do genoma nuclear. Mas este material genético é importante, pois é ele que nos diz o que faz de um mamute um mamute. Ao compararem o ADN do mamute com o de um parente próximo, o elefante africano, os autores verificaram que estes animais estão de facto muito próximos, tendo tido um antepassado comum há uns poucos milhões de anos:
A semelhança entre os nossos dados e o elefante africano (Loxodonta africana) foi 98.55%, consistente com a data de divergência baseada na paleontologia, de 5 a 6 milhões de anos.


Os autores não fizeram comparações com o elefante asiático, que nos outros estudos mostrou ser o parente mais próximo do mamute, mas não se esperam surpresas na relação entre as três espécies. Aliás, quando se repara no pequeno e felpudo exemplar asiático mostrado aqui ao lado, não é difícil perceber quão próximo estes seres estarão dos seus primos lanudos. E quem sabe, talvez possam num futuro mais ou menos próximo voltar a partilhar a Terra com eles. As últimas linhas do resumo do artigo de Poinar e colegas dizem:
A amostra inclui uma quantidade surpeendentemente pequena de ADN ambiental. A alta percentagem de ADN endógeno recuperada deste único mamute deveria permitir a obtenção do seu genoma completo, iniciando o domínio da paleogenómica.
Poinar e colegas estimam que será preciso cerca de um ano até ter o genoma completo do mamute lanudo. Mas isso não significa que se deva pensar em trazer de volta o mamute dentro de pouco tempo. Para já o essencial é assegurar a sobrevivência das espécies que ainda temos, mas quem sabe, talvez no futuro possamos trazer de volta algumas da megafauna extinta.

Para terminar não resisto a mostrar mais uma imagem do pequenino e irrequieto Kandula. Para mais fotos de elefantes, e não só, da autoria de Jessie Cohen, basta consultar as páginas do Smithsonian National Zoological Park aqui.


Referências:
(ref1)Poinar et al. (2006). Metagenomics to Paleogenomics: Large-Scale Sequencing of Mammoth DNA. Science 20, 392-394, Laço DOI.