sexta-feira, janeiro 11, 2008

Os pinguins descoloridos e a falta de higiene de uma princesa espanhola

Esta é uma imagem de um pinguim de Adélia, da espécie Pygoscelis adeliae. Já falei aqui por várias vezes destes pinguins, incluindo uma famosa referência à física dos seus disparos de excrementos. Pois bem hoje vou falar destes pinguins e da relação que ele possuem com roupa interior não lavada. Confusos? Tem tudo que ver com o facto de este pinguim em particular apresentar um casaco beige em vez do tradicional negro. Trata-se de um fenómeno chamado leucismo e que é relativamente raro nos pinguins. Esta foto foi tirada na Antártida numa colónia de cerca de 4,000 adélias, e este era o único pinguim beige. Ser fora do normal não grangeia a este animal grande simpatia por parte dos seus congéneres. Segundo os membros da expedição que observaram o animal, os adélias "normais" implicavam regularmente com o pinguim beige. Alguns autores preferem chamar isabelinismo a estes casos, pois para os ingleses Isabella era o nome que se dava (caíu em desuso no século XIX) a uma cor cinzento-amarelada. Há uma lenda por trás desse nome, que mete princesas e a sua roupa interior, e que eu não resisto a contar aqui. [... ler mais]

Embora raro, o fenómeno do isabelinismo nos pinguins encontra-se descrito na literatura científica, e David Everitt e Colin Miskelly fazem um resumo dos conhecimentos num artigo na revista Notornis (ref1). Foi aí que encontrei a tal história. Numa tradução livre da parte relevante:

Uma origem relatada para o adjectivo 'isabelino' é na verdade algo desagradável e em desacordo com a beleza das aves. Diz-se estar relacionada com um voto feito pela arquiduquesa Isabel da Áustria em 1600 de não mudar a sua roupa interior, nem mesmo para a lavar, até que o seu marido, o Arquiduque Alberto da Áustria, conquistasse a cidade de Ostende, unindo assim as províncias do norte e do sul dos Países Baixos.

De certa forma esta princesa Isabel faz parte da história luso-brasileira. É filha de Filipe II de Espanha, que era também rei de Portugal (Filipe I) e logo governava também o Brasil nessa época. Conseguir que a tal princesa espanhola ganhasse hábitos de higiene mais saudáveis não foi fácil:
Demorou três anos até 1604 para unir as províncias com o custo de mais de 40,000 vidas espanholas. A cor Isabella é supostamente uma descrição da roupa interior suja dessa dama. Contudo, esta origem é refutada no Shorter Oxford dictionary.

Depois de pesquisar um pouco descobri que a história é falsa porque o termo Isabella para designar cor cinzento-amarelada surge num documento relativo à rainha de Inglaterra, um ano antes do voto da princesa espanhola. Embora a origem do termo não esteja ligado a esta Isabel, a falta de higiene dos membros femininos da realeza espanhola pode apesar de tudo estar ligada à designação destes lindos pinguins. Tudo se passaria um século antes, com outra Isabel. O termo existe em Francês e Alemão e está ligado a uma história semelhante, só que envolve Isabel a Católica e o cerco de Granada, pelo seu marido Fernando de Aragão, que terminou em 1492 com a conquista da cidade.

Eis outro exemplo de um adélia isabelino, fotografado por Leon Baradat numa viagem de turismo à Antártida, em 2003:

Os pinguins isabelinos ão animais bonitos, quer a sua designação se deva ou não a roupa interior suja. Mas os pinguins não vêm apenas em branco e preto ou branco e beige. Há também pinguins-azuis, mas esses terão que esperar por uma próxima contribuição.

Ficha técnica
Imagem no início da contribuição de Brett Jarrett (Mawson's Hut Foundation) que pode ser encontrada no blogue Mawson's Huts 2007-8.
Imagem de pinguim isabelino entre os seus congéneres escuros da autoria de Leon Baradat via Wikimedia Commons.

Referências
(ref1) DAVID A. EVERITT, COLIN M. MISKELLY (2003). A review of isabellinism in penguins. Notornis, Vol. 50: 43-51. PDF.

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