quinta-feira, janeiro 10, 2008

As iguanas quando arrefecem caem no céu

Quando a temperatura cai abaixo dos 5 a 10 graus Celsius, iguanas, parecidas a esta Iguana iguana, "desligam", não sendo capazes de se agarrar aos ramos e troncos. O resultado é uma chuva de iguanas no chão da floresta. Isso aconteceu esta semana na Florida, nos Estados Unidos da América, onde as temperaturas nocturnas chegaram aos 3 graus negativos. Estas quedas não significam necessariamente a morte dos animais: com o nascer do Sol e o aumento das temperaturas muitos animais recuperam (podem suportar de 4 a 10 horas imóveis no frio). Mas nem todos o fazem, o que até nem é mau de todo. É que as iguanas ("os iguanas" para os leitores brasileiros) da Florida são uma peste, animais não nativos importados do México. [... ler mais]

Imagens de um dos intervenientes nesta verdadeira chuva de iguanas podem ser vistas nestas páginas do Miami Herald. Ora quão sério é o problema com estas criaturas na Florida e como surgiu? Tudo pode ter começado com animais como este, um juvenil, que possui um tamanho adequado para animal de estimação.

Só que os pequenitos crescem até mais de dois metros de comprimento da cabeça até à ponta da cauda, e muitos donos desistem delas, libertando-as na natureza, onde procriam de uma forma capaz de fazer inveja aos coelhos. Com a ausência de predadores o resultado é uma praga de iguanas, que devastam as plantas e incomodam os seres humanos de muitas e variadas maneiras.

O instituto da Ciências Alimentares e Agrícolas da Florida publica mesmo circulares sobre como lidar com o problema. Numa tradução livre de um desses textos, da autoria de W. H. Kern (ref1), na parte relativa aos estragos provocados pelos animais:

Danos causados pelas iguanas incluem consumirem plantas com valor ambiental, arbustos e árvores, comerem orquídeas e muitas outras flores, comerem frutos como bagas, figos, mangas, tomates, bananas, líchias, etc. As iguanas não consomem citrinos. As tocas que elas escavam minam os passeios, diques e fundações. Tocas de iguanas próximas de diques permitem a erosão e eventual colapso desses diques. Os excrementos das iguanas cobrem as áreas onde elas tomam banhos de sol. Isso é desagradável à vista, causa queixas relativamente a odores, e é uma fonte possível de bactérias salmonella, uma causa comum de intoxicação alimentar.

Não se trata de animais inofensivos:
As iguanas adultas são animais grandes e poderosos que podem morder, capazes de arradelas graves com as suas garras extremamente afiadas, e capazes de dolorosas pancadas com as suas poderosas caudas. As iguanas normalmente evitam as pessoas mas defender-se-ão contra animais de estimação e pessoas que tentem apanhá-los ou encurralá-los
.
Acho que é de facto uma boa ideia evitar estes dentes:

O autor discute várias formas de captura destes animais: com armadilhas, laços, e mesmo tiros ou flechas (se bem que a Florida tenha leis anticrueldade que se estendem aos reptéis). Uma vez capturadas as iguanas não podem ser libertadas, têm que ser mantidas em cativeiro, vendidas como animais de estimação, destruídas ou então consumidas! Sim, porque pelos vistos possuem uma carne tenra e suculenta.
A carne de iguanas adultas e os seus ovos são comidos e considerados uma iguaria ao longo dos seus locais de origem, especialmente durante a semana da Páscoa. Em 2004, o preço de carne de iguana era de 31 dólares dos EUA por quilo, na Marilândia. Adultos grandes, demasiado perigosos para serem mantidos como animais de estimação, podem ter valor como carne nos mercados de cariz étnico que se destinam a emigrantes da América do Sul e Central. Contudo, é melhor fazer um acordo com o gerente do mercado antes de aparecer com um saco de iguanas.

Um pitéu algo caro. Já vi iguanas pequenitas à venda por estes lados, nas lojas de animais, e sem dúvida algumas terão fugido ou sido libertadas quando se tornaram demasiado grandes. Com geadas frequentes, mesmo no sul do país, é pouco provável que cheguem a formar colónias. Mesmo assim, pelo sim pelo não, talvez seja boa ideia arranjar algumas receitas.

Ficha técnica
Imagens cortesia da University of Florida, Institute of Food and Agricultural Sciences (UF/IFAS) for the people of the State of Florida. Podem ser obtidas na referência abaixo.

Referências
(ref1) W. H. Kern, Jr (2004). Dealing with Iguanas in the South Florida Landscape. Fact Sheet ENY-714, a series of the Entomology and Nematology Department, Florida Cooperative Extension Service, Institute of Food and Agricultural Sciences, University of Florida. http://edis.ifas.ufl.edu/in528.

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