quinta-feira, janeiro 17, 2008

As fabulosas formigas planadoras

Um cientista, de seu nome Stephen Yanoviak, encontrava-se no ano de 2004 empoleirado a 30 metros de altura nas selvas do Equador, à espera que mosquitos se alimentassem do seu próprio sangue, quando se desembaraçou de algumas formigas que estavam a mordê-lo, empurrando-as das alturas. Uma queda dessas no perigoso chão da floresta, ou dentro de água, levaria em princípio à morte dos infelizes insectos. Só que, para espanto de Yanoviak, as formigas executaram umas fabulosas voltas de 180 graus e conseguiram poisar no tronco, subindo de volta ao local de onde tinham sido empurradas. Estava descoberto o vôo planado das formigas da espécie Cephalotes atratus. [... ler mais]

A descoberta foi descrita por Stephen Yanoviak, Robert Dudley e Michael Kaspari num artigo na revista Nature (ref1). Numa tradução livre do resumo:

Numerosos vertebrados arborícolas não voadores usam descida controlada (quer paraquedismo quer planar no sentido restrito) para evitar predação ou localizar recursos, e pensa-se que controlar a direcção durante um salto ou queda é um estádio importante na evolução do vôo. Mostramos aqui que as obreiras da formiga neotropical Cephalotes atratus L. (Hymenoptera: Formicidae) usam descida aérea dirigida para voltarem ao seu tronco de origem com mais de 80% de sucesso durante uma queda. Quedas registadas em vídeo revelam que as obreiras da C. atratus descem com o abdómen à frente com trajectórias de declive pronunciado e a velocidades relativamente elevadas; uma experiência no terreno mostra que as formigas em queda usam pistas visuais para localizarem os troncos antes de atingirem o chão da floresta.

A fabulosa técnica destas formigas pode ser apreciada neste filme, cortesia de Stephen Yanoviak. As formigas caem a qualquer coisa como quatro metros por segundo e muitas vezes falham a primeira aterragem, mas tentam de novo e lá conseguem agarrar-se ao tronco.
Obreiras menores da C. atratus, e mais geralmente espécies menores de Cephalotes, ganham de novo contacto com o seu tronco de origem em distâncias menores do que o fazem as obreiras maiores. Levantamentos de formigas arborícolas comuns sugerem que a descida dirigida ocorre na maioria das espécies da tribo Cephalotini e nas Pseudomyrmecinae arborícolas, mas não em ponerimorfos ou Dolichoderinae arborícolas. Este é o primeiro estudo a documentar a mecânica e a importância ecológica desta forma de locomoção na linhagem mais diversificada da Terra, os insectos.

Ou seja, é comum a muitas espécies de formigas arborícolas, embora não a todas. A forma exacta como as formigas conseguem planar não é conhecida. As cabeças achatadas podem ter que ver com a coisa.

Ora algum tempo depois deste artigo Stephen Yanoviak notou formigas, semelhantes em tudo às Cephalotes atratus, excepto no facto de possuirem um abdómen vermelho e não preto, e de o manterem no ar.

Não se trata de uma nova espécie, há algo bastante mais tenebroso por trás desta imagem. A história completa na próxima contribuição.

Ficha técnica
Fotos cortesia de Stephen P. Yanoviak, obtidas a partir do comunicado de imprensa na University of California, Berkeley.

Referências
(ref1) Stephen. P. Yanoviak, Robert Dudley e Michael Kaspari (2005). Directed aerial descent in canopy ants. Nature 433, 624-626. doi:10.1038/nature03254

1 comentários:

João Carlos disse...

O filme é realmente impressionante. As "manobras" das formigas dariam inveja a qualquer pára-quedista.