quinta-feira, março 23, 2006

Erketu ellisoni, ou uma questão de pescoço

Depois de me referir a um insecto como gigante, nada melhor do que olhar para o esqueleto de um dinossauro saurópode para manter as coisas em perspectiva. Mesmo quando se trata de um saurópode que é sobretudo pescoço. [... ler mais]

Num artigo na American Museum of Natural History Novitates (ref1), Daniel T. Ksepka e Mark A. Norell, descrevem um dinossauro saurópode recém-descoberto, de uma família cujos membros são designados como titanossauros. As imagens abaixo mostram, à esquerda, duas perspectivas da tíbia e fíbula (perónio) dos membros posteriores, e, à direita, uma das vértebras cervicais.

Notem bem a escala, a barra junto aos ossos da perna são 10 cm, a barra junto às vértebras representa 5cm. O "gigantesco" weta podia esconder-se dentro de uma vértebra destas sem problemas. Traduzindo o parágrafo referente à descoberta

Em 2002 uma expedição do Museu Americano de História Natural e da Academia de Ciências da Mongólia descobriu uma nova localidade, Bor Guvé, em Dornogov Aimag, na Mongólia. Várias vértebras cervicais de saurópode foram encontradas erodidas no terreno, e a excavação revelou o resto da série cervical anterior, preservada em articulação, mesmo em frente desses elementos. Elementos pós-cranianos adicionais foram desenterrados à medida que as cervicais ia sendo recolhidas. Apesar de esforços exaustivos, nenhum crânio foi encontrado nas redondezas.
Estes restos foram utilizados para erigir uma nova espécie, Erketu ellisoni. O artigo prossegue com a habitual descrição ultra-pormenorizada de todos os detalhes ósseos. O saurópode não era dos mais pesados, pelo contrário:
O tamanho dos elementos preservados dos membros posteriores sugere que o Erketu, apesar do seu grande comprimento, tinha um peso modesto.
Existe uma relação matemática, relativamente simples, entre o diâmetro e outras características dos ossos dos membros dos vertebrados e o peso, e este animal não sobressai quando comparado com outros saurópodes. As vértebras são no entanto bastante longas, e o animal aparenta ser muito comprido. O problema é que o esqueleto não está completo. Os cientistas dispõem apenas de alguns ossos das patas, parte do esterno, e apenas seis vértebras. Por vezes, a comparação com animais aparentados pode ajudar, mas esse não é o caso:
Embora seja claro que o Erketu tinha vértebras individuais elongadas, o pobre conhecimento do número de vértebras dos titanossauros basais exclui uma estimativa filogeneticamente informada do número total de vértebras cervicais.
No entanto algumas características ósseas apontam para uma especialização extrema:
A morfologia da série cervical reflecte a adaptação a tensões associadas com um comprimento extremo. Os indicadores ósseos da musculatura dos extensores estão fortemente desenvolvidos.
As reconstituições do animal apresentam-no por isso com um pescoço, gigantesco. A Nature tem um pequeno segmento sobre a descoberta, onde se pode ver uma ilustração do artista Jason Brougham. Nesse segmento os autores referem que, admitindo 14 a 15 vértebras cervicais, o pescoço do animal teria cerca de oito metros, o que significa que cerca de um terço do animal estaria na frente dos ombros. Estamos a falar de um animal realmente estranho, para que quereria ele um tal pescoço?

Adenda: a página da Nature deixou de estar em acesso livre. O Paleoblog mostra a mesma imagem aqui.

Referências
(ref1) Daniel T. Ksepka e Mark A. Norell (2006). Erketu ellisoni, a long-necked sauropod from Bor Guvé (Dornogov Aimag, Mongolia). American Museum Novitates 3508: 1-16.

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