domingo, março 11, 2007

De Portugal à América é uma curta caminhada

A reconstrução do estegossauro, com uma só fila de placas, que mostrei na contribuição anterior, é pouco comum, a forma mais usual nas ilustrações antigas é o arranjo com duas filas de placas idênticas, patente nesta imagem de Charles Knight (1874-1953) para o livro Mighty Animals de 1912. Este é o estegossauro que recordo da minha infância. Notem os equívocos quanto ao número de placas e espigões que ainda subsistiam por esta altura. Os estegossauros eram parte de uma grande extensa família, os estogossaurídeos, com espécies espalhadas um pouco por todo o mundo. Os fósseis das espécies do género Stegosaurus, contudo, eram conhecidos apenas de algumas formações do oeste do América do Norte. Ora, recentemente, foi publicada a descrição de material desse género proveniente da Europa, mais exactamente de Portugal. Como é que eles foram lá parar? [... ler mais]

O artigo de Escaso e colegas que descreve a descoberta foi publicado na revista Naturwissenschaften (ref1). Numa tradução livre do resumo:

Mais de um século após a sua descrição original por Marsh em 1877, relatamos neste artigo a primeira evidência não controversa de um membro do género Stegosaurus fora da América do Norte. O exemplar consiste num esqueleto parcial do Jurássico Superior de Portugal, no que se segue considerado como Stegosaurus cf. ungulatus. A presença deste dinossauro com placas no registo do Kimmeridgiano Superior ao Tithoniano Inferior português, e níveis correspondentes da Formação de Morrison na América do Norte, reforça hipóteses prévias de uma relação de proximidade entre essas duas áreas durante o Jurássico Tardio. Esta relação é também apoiada por evidências geotectónicas que indicam elevada probabilidade de um corredor esporádico entre as massas terrestres da Terranova e da Ibéria. Em conjunto, a descoberta do Stegosaurus português e as inferências geotectónicas poderão fornecer um cenário com contacto episódico entre as faunas entre as massas terrestres do Atlântico Norte durante o período do Kimmeridgiano Superior ao Tithoniano Inferior (cerca de 148 a 153 milhões de anos atrás).

Ora a que se assemelhava esse Atlântico Norte 150 milhões de anos atrás? Na próxima contribuição mostrarei alguns mapas, nos quais se poderá ver que identificar a massa de terra correspondente a Portugal não é tão fácil como possa parecer. Até lá deixo-vos com um modelo de um estegossauro numa pose mais moderna, com a cauda horizontal e não caída como nas versões antigas, e com as placas em duas filas alternadas.


Esta versão é razoavelmente parecida com os estegossauros que apareceram num dos filmes da série Parque Jurássico, pelo que é com esta que os mais jovens estarão familiarizados.

Ficha técnica
Ilustração da autoria de Charles R. Knight (1874-1953) obtida a partir de www.copyrightexpired.com.
Modelo de estegossauro num parque polaco cortesia de Jakub Hałun, obtida desta página na Wikipedia Commons.

Referências
(ref1) Escaso F, Ortega F, Dantas P, Malafaia E, Pimentel NL, Pereda-Suberbiola X, Sanz JL, Kullberg JC, Kullberg MC, Barriga F (2006). New evidence of shared dinosaur across Upper Jurassic Proto-North Atlantic: Stegosaurus from Portugal. Naturwissenschaften, no prelo.

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