sábado, novembro 04, 2006

As garras das ciganas enquanto jovens

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Descrevi numa contribuição anterior as extraordinárias adaptações do Opisthocomus hoazin, uma ave chamada cigana, muito comum em várias regiões do Brasil, pelo menos em Mamirauá. Mas se a existência de uma câmara de fermentação só por si já era suficiente para garantir notoriedade, o mecanismo que as crias usam para fugir dos predadores é extraordinário. Na maioria dos casos as aves ciganas têm uma ninhada com duas crias, que caso nada de anormal aconteça permanecem no ninho até aos 14 a 20 dias de vida. Na maioria dos casos os O. hoazin vivem num grupo formado por um casal e várias crias adultas de anos anteriores que ajudam a criar a nova geração. Até no valor que dão a uma família alargada as aves ciganas são invulgares. Ora quando um macaco, ou cobra, ou alguma outra criatura ameaçadora, se aproxima de um O. hoazin no ninho, as crias, mesmo as muito jovens com apenas 4 a 6 dias, não ficam paradas à espera para ver o que acontece. Elas fogem e saltam destemidamente para a água abaixo do ninho. [... ler mais]

As pequenas aves então ou mergulham ou nadam até à vegetação onde se escondem.

Se não forem comidas por uma piranha ou qualquer outro predador aquático elas trepam a outra árvore sem dar nas vistas. Não tentam voltar ao ninho de onde saíram. Normalmente os adultos dão com com elas e alimentam-nas no novo local. Para as ajudar a trepar às árvores as crias da ave cigana possuem uma adaptação notável: elas têm garras nos dedos das asas!

As garras caem quando a ave desenvolve as penas de vôo. Uma ilustração sobre o modo como estas garras são usadas pode ser vista aqui. Infelizmente não encontrei uma sequência que pudesse colocar aqui.

Todas estas imagens provêm da tese de doutoramento (ref1) de Antje Müllner, que um belo dia resolveu estudar estas criaturas nas matas das lagoas de Cuyabeno no Equador. Como é que se faz isso? Bem, antes de mais é preciso ter uma boa piroga. Todas as observações e recolha de dados da tese de Antje Müllner foram feitas a bordo desta embarcação.

O trabalho de Antje Müller não incidiu apenas sobre aspectos da ecologia destas aves. A autora estudou também o impacto dos visitantes humanos nestas criaturas. Esta contribuição já vai longa, por isso vou deixar o impacto do chamado ecoturismo para a próxima contribuição.

Referências
(ref1) Antje Müllner (2004). Breeding Ecology and Related Life-History Traits of the Hoatzin, Opisthocomus hoazin, in a Primary Rainforest Habitat. Dissertation zur Erlangung des naturwissenschaftlichen Doktorgrades der Bayerischen Julius-Maximilians-Universität Würzburg.

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