terça-feira, abril 25, 2006

Escondida do registo fóssil

Esta criatura que parece um camarão algo estranho, o Neoglyphea neocaledonica, é uma nova espécie, recém-descoberta. A descoberta de uma nova espécie, embora seguramente sempre emocionante para o descobridor, não é tão rara como isso, basta ver as rãs que têm sido descobertas na selva do Laos nos últimos tempos. O Neoglyphea é algo diferente, trata-se de um "fóssil vivo", isto é um membro de um grupo de animais cujos últimos vestígios fósseis datam de há muitos milhões de anos. O Neoglyphea representa para os estudiosos dos crustáceos o que a descoberta do celacanto, Latimeria chalumnae, representou para os especialistas dos vertebrados. O antepassado de todos os decápodes actuais (caranguejos, lagostas e camarões) pertenceria ao grupo dos glifeídeos. [... ler mais]

Esta é a segunda espécie a ser descoberta neste género. Foi capturada em Outubro de 2005 numa expedição liderada por Bertrand Richer de Forges e é descrita na revista Zoosytema (ref1). Numa tradução livre do resumo original em francês:

Uma nova espécie de glifeídeo do género até ao presente monotípico Neoglyphea, N. neocaledonica foi capturada nas águas profundas do mar do Coral. Após uma descrição do único exemplar feminino, uma comparação morfológica é feita com a outra espécie do género, N. inopinata.

O artigo é sobretudo a descrição minuciosa da morfologia da criatura e da aspectos filogenéticos. Aqueles que consigam ler francês fluentemente poderão consultar o pdf do artigo, que se encontra disponível para consulta na internet. Não resisto aos detalhes sobre a descoberta da primeira espécie:
Quando em 1975 dois investigadores, J. Forest et M. de Saint Laurent, mencionaram que um crustáceo recolhido pelo navio de pesquisa americana Albatroz nas Filipinas, em 1908, a 186 metros de profundidade e conservado depois, não identificado, no Museu de História Natural de Washington, pertencia ao grupo dos glifeídeos conhecido do Mesozóico e do qual se supunham todos os representantes desaparecidos desde o Cretácico Superior, a notícia provocou um grande alarido. Esse "fóssil vivo" foi então descrito com o nome Neoglyphea inopinata.

O ênfase a negrito é meu. Os antepassados do animal não só conseguiram esconder-se do registo fóssil durante cerca de 50 milhões de anos, como ainda este exemplar permaneceu à vista de toda a gente sem ser identificado durante 60 anos após ser capturado. Realmente a criatura não tinha vontade de ser "descoberta" pelos seres humanos. Os 50 milhões de anos vêm do comunicado de imprensa do CenSeam onde se refere que se pensava que os glifeídeos teriam desaparecido no Eoceno. Quanto ao N. neocaledonica:
Apesar da sua recolha em águas profundas, o animal pôde ser observado vivo. É muito activo e agressivo e utiliza a sua pseudo-pinça para atacar, apoiando-se sobre o primeiro conjunto de patas ambulatórias, com o cefalotórax formando uma curva com o abdómen.
Como vemos o N. neocaledonica também não parece muito feliz por ter sido descoberto. A atenção para este artigo chegou-me através do blog Deep-Sea News, o local por excelência para descobrir notícias recentes sobre as profundezas marinhas.

Referências
(ref1)Discovery in the Coral Sea of a second species of glypheid (Crustacea, Decapoda, Glypheoidea). Zoosystema, Volume 28, issue 1, 17-29. PDF.

0 comentários: