segunda-feira, outubro 13, 2008

Não há pai para alguns tubarões

Este é o tubarão galha preta, de seu nome científico Carcharhinus limbatus. Trata-se de um tubarão de porte razoável que, não sendo dos mais agressivos, tem a sua quota de dentadas em banhistas humanos. Uma pesquisa recente mostrou um aspecto curioso da sua reprodução. À semelhança dos humanos, os tubarões galha preta são víviparos e dão à luz crias vivas, mas não foi esse o aspecto a merecer atenção dos investigadores. O que se observou é que estes tubarões partilham algo com outras criaturas de que falei aqui, como os dragões de Komodo e os perus. Descobriu-se que as fêmeas do tubarão galha preta conseguem reproduzir-se sem a interferência de um macho, isto é, estes tubarões podem reproduzir-se por partenogénese. [... ler mais]

O artigo que refere um nascimento virgem no Carcharhinus limbatus é da autoria de Demian Chapman, Beth Firchau e Mahmood Shivji, e foi publicado na revista Journal of Fish Biology (ref1). Numa tradução livre do resumo:

Fornece-se evidência de partenogénese num tubarão de grande porte, o galha preta Carcharhinus limbatus, da família Carcharhinidae, com muitas espécies e comercialmente importante, o primeiro caso verificado de desenvolvimento assexual nesta linhagem e o segundo apenas dos peixes cartilagíneos. O embrião partenogenético exibia homozigotidade elevada relativa à sua mãe, indicando que partenogénese de automistura é o mecanismo mais provável. Embora esta descoberta mostre que a partenogénese é mais comum e espalhada nos tubarões do que o reconhecido previamente e apoie a existência de capacidades partenogenéticas cedo na linhagem dos vertebrados, a significação adaptativa da auto-mistura nestes peixes antigos permanece pouco clara.

O termo automistura significa que o conjunto de cromossomas proveniente da mãe emparelha neste caso com um conjunto exactamente igual de cromossomas, isto é, o embrião resulta da duplicação do genoma do oócito (por fusão com um dos corpos polares). As crias resultantes deste tipo de partenogénese não são clones da mãe, sendo por vezes designadas por meios-clones. Deve notar-se ainda, sobretudo para os estudantes de liceu, e que podem apanhar este tipo de questões como "rasteira" num exame, que embora os autores se refiram a um desenvolvimento "assexual" o termo não é o mais adequado. O processo envolve células sexuais, os gâmetas femininos, podendo portanto incluir-se como uma forma particular da reprodução sexuada.

Este não é o primeiro caso documentado de partenogénese em tubarões vivíparos. Já tinha sido descrito em tubarões martelo de pequeno porte, da espécie Sphyrna tiburo. Nesse caso tratava-se de um animal em cativeiro, e o nascimento do pequeno tubarão apanhou toda a gente de surpresa. Toda a gente, mas não os outros tubarões no mesmo aquário. Enquanto os observadores tentavam perceber o que se passava, um tubarão de grande porte comeu o infeliz tubarãozinho martelo. Os investigadores usaram nesse caso algumas das sobras do repasto para estabelecerem que se tratava de partenogénese.

No caso estudado por caso Demian Chapman e colegas, a cria não chegou a ver a luz do dia. Foi observada no dia 30 de Maio de 2007, na necrópsia de um tubarão em cativeiro, uma fêmea com nove anos de idade que não tinha recuperado após ter sido sedada durante um exame veterinário de rotina. A necrópsia mostrou um embrião do sexo feminino bem desenvolvido, isso apesar da fêmea ter estado isolada de congéneres durante os oito anos que durou o seu cativeiro. Esta espécie atinge a maturidade sexual por volta dos 7 anos e o período de gestação é de 12 meses. Os testes genéticos mostraram o que se esperaria num caso de partenogénese de automistura: ausência de alelos paternos, e evidência de duplicação dos alelos maternos. A pequenita era apenas filha de sua mãe.

Tal como nos casos dos dragões de Komodo, e dos perus, de que falei anteriormente, a partenogénese dos tubarões parece ser apenas uma possibilidade eventual, sendo a reprodução envolvendo os dois sexos a mais comum. Este processo não deve ser encarado como uma forma das populações de tubarões recuperarem do processo acelerado de extinção em que se encontram. Em particular porque o processo acarreta uma perda de diversidade genética. Embora o recurso à partenogénese possa evitar o fracasso reprodutivo em ambientes onde a densidade destes animais seja reduzida, os custos genéticos podem sobrepor-se às vantagens reprodutivas.

Ficha técnica
Imagem cortesia de Albert Kok via Wikimedia Commons.

Referências
(ref1) D. D. Chapman, B. Firchau, M. S. Shivji (2008). Parthenogenesis in a large-bodied requiem shark, the blacktip Carcharhinus limbatus. Journal of Fish Biology, Volume 73 Issue 6, Pages 1473 - 1477. doi:10.1111/j.1095-8649.2008.02018.x.

2 comentários:

Anónimo disse...

sim nao tocavas na boca..
seu cara de peixe mero..
vai mamar..

Anónimo disse...

sim nao tocavas na boca..
seu cara de peixe mero..
vai mamar..