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Os investigadores do Projeto Boto empregam uma técnica de rastreamento chamada rádio telemetria. Para poderem efectuar esse rastreio colocaram pequenos rádio-transmissores em 56 animais adultos: 3 seguidos por satélite e 53 seguidos por receptores colocados em torres ou árvores na reserva. Estas coisas são como que aparafusadas às pequenas barbatanas dorsais características destes animais:

Um estudo de longa duração de botos (Inia geoffrensis) an Amazónia Brasileira permitiu a comparação entre a sobrevivência e reprodução de 51 adultos equipados com transmissores rádio e um número idêntico que foram capturados e manuseados da mesma forma mas libertados sem um transmissor. Para ambos os sexos combinados, 47 botos com emissores (92.2%) sobreviveram pelo menos três anos após terem sido libertados, comparados com 42 (82.4%) sem emissores, o que se traduz numa taxa de sobrevivência anual de 97.3% e 93.6%, respectivamente. A diferença não era estatisticamente significativa. Oito das 15 fêmeas com emissores monitorizadas de perto estavam em período de aleitamento, e as suas crias desmamaram com sucesso. Duas que estavam prenhas aquando da captura deram à luz posteriormente. O número médio de crias nascidas destas 15 fêmeas após a primeira largada foi de 0.172 (SD = 0.107) e para as 17 sem emissores foi 0.174 (SD = 0.095), mais uma vez uma diferença não significativa. Os resultados indicam que colocar dispositivos nas barbatanas dorsais dos golfinhos pode ser conseguido sem impactos mensuráveis na sua sobrevivência ou no seu desempenho reprodutivo subsequentes. Contudo, os botos podem ser anormalmente robustos no que se refere ao manuseamento, e este estudo não deve ser usado para justificar técnicas semelhantes noutras espécies sem as habituais cautela, diligência e acompanhamento por um perito.
Agora que podemos estar sossegados quanto aos efeitos sobre o animal, que aparentemente não deverão passar de algum desconforto, sinto-me mais à vontade para falar nos resultados de alguns destes estudos, e também de vários aspectos da vida dos botos. Não resisto a mostrar uma imagem feliz destes animais únicos, com as sua enormes barbatanas e longos e estreitos focinhos, impossíveis de confundir com outras espécies de cetáceos.

Ficha técnica
Todas as imagens e muita da inspiração para o texto foram retiradas das páginas do Projeto Boto.
Referências
(ref1) Martin, A.R., da Silva, V.M.F. and Rothery, P.R. (2006). Does radio tagging affect the survival or reproduction of small cetaceans? A test. Marine Mammal Science 22(1): 17-24. Laço DOI.
3 comentários:
Bom... Pelo que se pode concluir dos dados coletados no projeto (apesar da amostragem ser pequena - quem nunca esteve lá, não faz idéia de quão enorme é a Amazônia), não é mais prejudicial do que o uso de telefones celulares por pessoas.
O passo seguinte seria o de implantação de microcâmeras de televisão, para que se pudesse ter uma visão do comportamento dos animais, sem a perturbadora presença de seres humanos no local.
Mas os botos são criaturas dóceis (eu travei contato com eles no Lago Puraquequara, parte do Centro de Instrução de Guerra na Selva do Exército Brasileiro) e - no caso de não serem hostilizados, como no que descrevi - se mostram curiosos para com seres humanos.
O grande problema com a sobrevivência da espécie é a concorrência que eles fazem com os pescadores humanos, que não costumam ser tão amistosos...
Na verdade a coisa com os pescadores é mais macabra. Vou falar nisso a seguir.
Foi o que eu deixei implícito... A coisa chega a ser revoltante.
Eu nunca lidei pessoalmente com este aspecto, mas tenho alguma experiência no combate à caça predatória de jacarés no Pantanal de Mato Grosso.
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