quinta-feira, novembro 23, 2006

Unicórnios, baleias brancas e assassinas, a espantosa diversidade dos golfinhos

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Estas imagens mostram narvais, de seu nome científico Monodon monoceros. Embora a afiada coisa que se projecta da cabeça não se trate exactamente de um corno, mas sim de um dente, este animal não deixa de evocar o mitológico unicórnio. É uma criatura com o seu quê de mágico. O narval é um bom exemplo da diversidade dos seres incluídos sob a designação de golfinhos. Quando se analisa essa variedade conseguimos contudo distinguir um certo número de grupos naturais dentro dos golfinhos: alguns golfinhos são mais iguais a certos golfinhos que a outros. Esses grupos naturais partilham entre si características de dentição, morfologia, e comportamento, entre outras. Isso é um indicador de que as espécies no grupo possuem um antepassado comum entre elas que não partilham com os membros dos outros grupos. As relações de parentesco são importantes para compreender a evolução de muitas características da ecologia e comportamento destes animais. Resolvi por isso, antes de introduzir o tema das vocalizações, fazer um pequeno parêntesis para abordar as relações familiares entre as muitas espécies de golfinhos e seus "aliados". [... ler mais]

Comecemos então com um velho conhecido nosso.

Os botos-vermelhos, Inia geoffrensis e as toninhas de rio sul-americanas, Pontoporia blainvillei, formam um grupo à parte do resto. Existem muitas características neste grupo que os restantes golfinhos não têm, e vice-versa. O "resto" dos golfinhos pode separar-se por sua vez em três ramos bem distintos. Um desses ramos são as três espécies dos chamados Monodontidae. Os monodontídeos tiram o seu nome do narval (Monodon monoceros) e incluem ainda as belugas (Delphinapterus leucas). Já mostrei aqui uma imagem dos fabulosos unicórnios marinhos no início da contribuição. As simpáticas baleias-branca, que na verdade são golfinhos, também merecem uma imagem:

Um outro grupo natural de golfinhos os Phocoenidae, inclui uma espécie razoavelmente comum no litoral português, que pode ser visto por exemplo em Tróia e na Arrábida. De seu nome científico Phocoena phocoena, é conhecido localmente por boto, ou seja o mesmo nome dado ao seu parente afastado do Amazonas.

Aliás, para mostrar quão enganador pode ser um nome, este animal é também conhecido em Portugal por toninha, que é a designação dada no Brasil ao Pontoporia blainvillei. Os focenídeos são também um grupo pequeno, incluem apenas seis espécies.

O grupo maior, com 32 espécies, e que inclui os golfinhos mais comuns, são os Delphinidae. Os delfinídeos incluem o mais famoso golfinho de todos, o roaz-corvineiro, Tursiops truncatus. Trata-se um golfinho que se adapta bem ao cativeiro e ao convívio com humanos. Eis aqui uma imagem de um roaz-corvineiro de nome K-Dog numa missão de desminagem no Golfo Pérsico.

Para aqueles que estão a pensar comentar o facto de eu estar a fazer propaganda de uma incursão militar altamente controversa, devo dizer que a missão deste golfinho tinha cariz não bélico: destinava-se a manter desimpedida uma rota usada por barcos de ajuda humanitária. Hesitei um bocado, mas é uma fotografia excelente, e de divulgação livre.

Um outro delfinídeo bastante conhecido é a infame baleia-assassina, Orcinus orca que, mais uma vez, apesar do nome baleia, é um golfinho.

Agora que já mostrei os vários grupos e apresentei imagens, vou então falar brevemente das relações de parentesco. A árvore filogenética correspondente, construída com base nas características das várias espécies de golfinhos, é a seguinte:

Nesta representação, designada por cladograma (do grego clados para ramo), cada união entre ramos significa que os grupos em questão partilham um antepassado comum que não partilham com os grupos mais abaixo. Este cladograma indica que os Delphinidae, Phoecoenidae e Monodontidae partilham entre si um antepassado comum mais recente do que qualquer um deles partilha com os boto-vermelhos e toninhas sul-americanos (Iniidae e Pontoporiidae). Por sua vez os delfinídeos e focenídeos partilham entre si um antepassado comum mais recente do que qualquer um deles partilha com as belugas e narvais.

Esta discussão da filogenia foi apenas uma introdução simplificada, destinada à contribuição sobre as vocalizações dos golfinhos que apresentarei em seguida. Voltarei eventualmente a este tema, de forma mais elaborada, discutindo toda a árvore filogenética dos cetáceos, que, por incrível que pareça, são aparentados aos artiodáctilos, o grupo que inclui, entre outros animais, hipopótamos, camelos e porcos.

Ficha técnica
Imagens de narvais cortesia de Kristin Laidre, retiradas desta página do OceanExplorer da NOAA.
Imagem da beluga cortesia de Robyn Angliss, retirada desta página do National Marine Mammal Laboratory.
Imagem da orca e da Phocoena phocoena retiradas a partir desta página da Marine Mammal Commission.
Imagem do boto-vermelho retirada das páginas do Projeto Boto.
Imagem do roaz-corvineiro cortesia de Brien Aho, retirada do US Navy newsstand.

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