quarta-feira, maio 17, 2006

A corrida do vampiro

A contribuição para hoje era sobre astronomia, mas estou com dificuldade em colocar as minhas animações num servidor externo ao blogger. Para não ficar mais um dia em branco resolvi por isso socorrer-me de um artigo antigo (Março 2005) sobre os morcegos vampiros comuns, da espécie Desmodus rotundus. Apesar da má reputação a felpuda criaturinha da imagem até tem um aspecto simpático. O que me leva a falar neste animal não são os sinistros hábitos alimentares, mas sim uma característica algo supreendente: estes morcegos conseguem correr. [... ler mais]

Fazem-no com uma passada que embora pouco habitual é bastante eficiente. O artigo foi publicado na Nature (ref1) e é da autoria de Daniel Riskin e John Hermanson, ambos da Universidade de Cornell. Numa tradução livre do resumo:

A maioria dos tetrápodes conservaram a locomoção terrestre desde que esta evoluiu na era Paleozóica, mas os morcegos tornaram-se tão especializados para o vôo que perderam practicamente quase toda a habilidade de manobrar em terra. Os morcegos vampiros, que se esgueiram até à sua presa no solo, são uma importante excepção. Mostramos aqui que os morcegos vampiros comuns podem também correr usando uma passada acoplada única, em que os membros anteriores em vez dos posteriores são utilizados para produzir força, uma vez que as asas são muito mais poderosas que as pernas. Esta habilidade para correr parece ter evoluído de forma independente dentro da linhagem dos morcegos.

Os autores colocaram morcegos vampiros numa esteira rolante e verificaram que a baixas velocidades os morcegos eram capazes de caminhar, mas, assim que a velocidade da esteira aumentava, os morcegos desenvolviam algo que só se pode designar por corrida, pois incluía uma fase em que todas as patas estavam fora de contacto com o solo. A passada utilizada era no entanto distinta das formas de corrida utilizadas pelos outros animais de quatro patas, pois eram os braços que produziam a força. As imagens são impressionantes:


As imagens acima não fazem no entanto justiça à fantástica cavalgada do vampiro. A coisa só pode ser apreciada em toda a sua glória neste filme que até é bastante pequeno (569 kbytes). Como mais nenhuma espécie de morcegos mostra esta habilidade os autores concluem que os morcegos vampiros desenvolveram esta forma de corrida de forma independente, isto é, trata-se de uma novidade evolutiva. Os morcegos atingem velocidades razoáveis para um animal do seu tamanho. Na figura o morcego está a correr a puco mais de meio metro por segundo, mas podem atingir cerca de 2 metros por segundo (mais de 7 km/hora).

Agora porque razão terão os morcegos necessidade de correr não é claro. Após a introdução do gado nas Américas pelos humanos no século XVI, os morcegos passaram a alimentar-se preferencialmente nestes animais. Mas os morcegos não são esquisitos, sendo capazes de se alimentarem mesmo de sangue de répteis. É óbvio que correr deve ter alguma utilidade para manobrar em volta das presas, mas sem examinar o comportamento destes vampiros com outros animias, que não o gado, as vantagens do comportamente não são óbvias.

Este animais são muito pequenos, com apenas 8 centímetros de comprimento. Mas há aqui claramente material para pesadelos, não custa imaginar um vampiro gigante a correr desenfreadamente atrás de nós.

Ficha técnica
Imagem do morcego nas paredes da gruta retirada da Wikimedia Commons.
Imagens do morcego a correr e filme retirados da página sobre este estudo na Universidade de Cornell.

Referências
(ref1) Riskin, D.K., and J.W. Hermanson (2005). Biomechanics: Independent evolution of running in vampire bats. Nature 434:292. Laço DOI.

0 comentários: