terça-feira, março 06, 2007

O rato que dura, e dura, e dura, e dura ...

Este animal, que de tão feio chega a ser atraente, é um bebé rato toupeiro nu africano, de seu nome científico Heterocephalus glaber. Com a vida social de uma formiga, com o controle de temperatura de um lagarto, os ratos toupeiros nus são realmente peculiares entre os mamíferos. Há um outro aspecto que os caracteriza e de que ainda não falei aqui: a sua extraordinária longevidade. É que estes animais duram, e duram, e duram ainda mais. Vivendo em cativeiro, a criaturinha da imagem pode viver durante quase mais trinta anos, se tudo lhe correr bem na vida. [... ler mais]

Um dos artigos que primeiro chamou a atenção para a notável duração destes roedores é da autoria de Paul Sherman e Jennifer Jarvis, e foi publicado na revista Journal of Zoology (ref1). Numa tradução livre do resumo:

A senescência é a deterioração fisiológica interna que acompanha a idade avançada. As hipóteses evolucionárias preveêm que as taxas de senescência deverão variar directamente com a mortalidade extrínseca e inversamente com a fecundidade. Nesse caso, os ratos toupeiros nus (Heterocephalus glaber) deveriam viver durante bastante tempo (ter uma senescência lenta) porque na natureza habitam tocas fortemente protegidas e, e fêmeas procrariadoras idosas fazem contribuições reproductivas desproporcionadas. Para além disso, o H. glaber tem uma taxa metabólica excepcionalmente baixa, o que pode reduzir o desgaste oxidativo. Mantivémos ratos toupeiros nus em cativeiro desde 1974. Relatamos aqui que indivíduos podem viver durante tempos muito longos: muitos estão vivos após mais de 20 anos e alguns têm 26 anos de idade (e continuamos a contar). Apesar de ainda não sabermos quanto tempo os ratos toupeiros nus conseguem sobreviver, ultrapassaram já a longevidades máxima de todas, excepto uma, das 156 espécies de roedores mantidas em cativeiro desde o nascimento até à morte.

A tal espécie que excede os 26 anos é o porco-espinho. Coloquei o ênfase a negrito na frase do desgaste oxidativo, uma tradução talvez demasiado directa do inglês oxidative stress. Talvez haja um termo mais apropriado, mas estou em viagem, não tenho nada à mão para consultar, e o meu cérebro comporta-se de modo estranho devido às diferenças horárias. Pois bem, eu destaquei essa frase porque estudos posteriores mostraram que se passa exactamente o contrário. Falarei nesse trabalho dentro de algum tempo. Para já chega de ratos toupeiros, farei uma pequena pausa neste tema, mas voltarei dentro de duas a três semanas.

Referências
(ref1) Paul W. Sherman and Jennifer U. M. Jarvis (2002). Extraordinary life spans of naked mole-rats (Heterocephalus glaber). Journal of Zoology, Volume 258, Issue 03, pp 307-311. Laço DOI

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