sexta-feira, julho 21, 2006

O genoma do outro Homo

Esta imagem mostra à esquerda uma reconstrução do esqueleto do Homo neanderthalensis, e à direita uma reconstrução do esqueleto do Homo sapiens. As diferenças são notórias, sendo a robustez do esqueleto do neandertal algo que salta à vista. A imagem não se destina a introduzir um artigo científico recente, mas sim falar de algo que há pouco pareceria saído da ficção científica. Alguns cientistas estão neste momento a trabalhar na sequenciação do genoma do homem de neandertal. [... ler mais]

A equipa trabalha em conjunto com uma empresa de biotecnologia a 454 Life Sciences que colocou inclusivé uma página sobre o projecto, que pode ser consultada aqui (em inglês). Os Neandertais, que desapareceram da Europa e Próximo Oriente há relativamente pouco tempo, cerca de 30,000 anos, habitaram durante muito mais tempo a Península Ibérica, e logo a região que hoje corresponde a Portugal, que o Homo sapiens. O estudo do genoma do neandertal será importante para saber se houve troca de genes com os humanos modernos, em particular os Europeus. Será que os portugueses carregam ainda hoje alguns desses genes?

Mas o desafio que espera os cientistas não é fácil. De um dos comunicados de imprensa que podem ser encontrados na página do projecto:

Ao longo dos próximos dois anos, a equipa da sequenciação do neandertal vai reconstruir um rascunho dos 3 mil milhões de bases que fazem o genoma dos neandertais. Nesse trabalho, vão utilizar amostras de vários indivíduos, incluindo o espécime tipo encontrado no Vale de Neander em 1856 e um neandertal da croácia particularmente bem preservado. A decisão da Sociedade Max Planck de financiar o projecto é baseada numa análise de aproximadamente um milhão de pares de bases de ADN nuclear de um fóssil da Croácia com 45,000 anos, sequenciado pela 454 Life Sciences.

O trabalho é hercúleo, devido ao estado da amostra e à possibilidade de contaminação. Ainda do material que se pode encontrar nas páginas:.
O 454 Life Sciences' Genome Sequencer 20 System torna essa tarefa possível ao permitir que aproximadamente um quarto de milhão de fragmentos de ADN obtidos de pequenos fragmentos de osso sejam sequenciados em apenas cerca de 5 horas por uma única máquina. As sequências de ADN determinadas pelo Genome Sequencer 20 System possuem 100-200 pares de bases de comprimento, o que coincide com o comprimento dos fragmentos de ADN antigos.

Para reconstruir os 3 mil milhões de bases os cientistas vão precisar de montar uma espécie de gigantesco puzzle, com bocados de apenas 100 a 200 pares de bases. É claro que se põe outra questão, se os cientistas conseguirem ultrapassar as questões de contaminação, da ambiguidade de atribuir um gene a um certo cromossoma, e reconstruirem de facto o ADN do homem de neandertal, deveremos trazê-los de volta se isso for possível? Poderão existir alguns argumentos de ordem "moral", sobretudo se algum dia se provar que foi o Homo sapiens o responsável pela sua extinção, mas neste caso confesso que preferia que se deixassem as coisas como estão.

3 comentários:

Anónimo disse...

Gostariamos de voltar a existir?

Quanto a questão, penso o seguinte: Se nossa própria espécie fosse completamente extinta e no futuro uma nova raça inteligênte pudesse traze-la de volta, bem, eu gostaria de que fosse feito.

Anónimo disse...

Continuando: Pensar em estar fora da existência, gera um sentimento estranho! Acho que deviam todos levar isto em conta.

Era uma espécie inteligente!
Tinham mulheres e crianças!
Consequentemente, famílias!

Se pudessemos voltar no tempo e lhes perguntar se gostariam de voltar a existir 30 mil anos depois de terem sumido completamente... Será que responderiam simplesmente "NÃO"?

ou "nunca mais voltaremos a correr ou nos reunir nesta terra..."

Improvável.

Bem, sou eu novamente, Angelo Beguito do Brasil ...O blog continua incrível! Melhor do que qualquer revísta científica que eu conheça. E é grátis!

hehe!

Caio de Gaia disse...

Angelo obrigado pelos seus comentários.

Esses homens de 30,000 anos atrás viveram mais menos felizes com as suas famílias e morreram como todos os homens acabam por morrer mais cedo ou mais tarde.

Se os trouxermos de volta não serão bem neandertais, não existirá nenhum tipo de continuidade cultural, apenas física, e isso é apenas uma pequena parte de ser humano. Imagino os problemas de identidade que isso traria, saber que se é apenas uma experiência científica dos "outros".