Esta é uma fotografia fantástica, tirada por Uwe Kils, e mostra um alevim (larva) do salmão do Atlântico, da espécie Salmo salar. Esta espécie está a sofrer um declínio acentuado na natureza, com o colapso de muitas populações. A causa é muito provavelmente a actividade humana, em particular a aquicultura. É um contrassenso, que tenho dificuldade em perceber, que se promova a criação de peixes alimentados com uma dieta carnívora, numa época em que todas as reservas de peixe estão em colapso. Para cada quilo de salmão produzido nas explorações de aquicultura intensiva são necessários três quilos de outros peixes, peixes esses que são pescados nos oceanos. Mas o efeito nocivo da aquicultura do salmão vai muito para além do fomento da pesca para fazer ração de salmão. Como eu discuti numa contribuição anterior, o piolho de peixe que se escapa das quintas de salmão dizima os juvenis dos salmões selvagens, ou seja, a criação do salmão tem um impacto brutalmente negativo na sobrevivência do salmão na natureza. A verdadeira dimensão de todos os impactos nocivos da aquicultura foi avaliada num estudo recente: em áreas onde há salmões de aviário a taxa de sobrevivência do salmão selvagem cai por mais de 50%. [... ler mais]
O artigo que discute a taxa de sobrevivência dos salmões é da autoria de Jennifer Ford e Ransom Myers e foi publicado na PLoS Biology (ref1). Numa tradução livre do resumo:O impacto da aquicultura do salmão nos salmão e truta selvagens é um tema de debate aceso em todos os países onde as quintas de salmão e os salmões selvagens coexistem. Estudos mostraram claramente que salmões escapados das explorações se reproduzem com as populações selvagens, para detrimento das populações selvagens, e que as doenças e parasitas passam dos salmões das explorações para os salmões selvagens. Tem faltado, contudo, uma compreensão da importância desses impactos ao nível da população. Neste estudo, utilizámos dados existentes sobre as populações de salmão para comparar a sobrevivência de salmão e truta que nadam através explorações de aquicultura de salmão, no início do seu ciclo de vida, com a taxa de sobrevivência de populações próximas, que não estão expostas a explorações de aquicultura. Detectámos um declínio significativo na sobrevivência de populações que estão expostas a quintas de salmões, correlacionado com o aumento da produção de salmão de aquicultura em cinco regiões. Combinando as estimativas regionais de forma estatística, encontramos uma redução na sobrevivência ou abundância de populações selvagens de mais de 50% por geração em média, associadas com a aquicultura de salmão. Muitas das populações de salmões que investigámos apresentam uma abundância reduzida de forma dramática, e reduzir as ameaças que enfrentam é necessário para assegurar que sobrevivam. Reduzir os impactos da aquicultura de salmão no salmão selvagem devia ter uma prioridade elevada.
Os salmões são criaturas que na natureza sobem facilmente barreiras nos rios, daí que não seja de estranhar que escapem aos milhões das explorações de aquicultura. Estudo prévios, tal como o dos piolhos de que falei anteriormente, analisavam apenas um dos aspectos em que os aviários de salmão interferiam com as populações selvagens. Este estudo representa um levantamento sistemático e é conclusivo, e preocupante. É que o aumento projectado para a densidade das explorações pode facilmente elevar estes 50% a 73% nos próximos anos. Já agora, convém não confundir a aquicultura intensiva com outras formas de aquicultura que fazem parte da paisagem portuguesa, e que têm uma longa história de exploração sustentada. O que está em causa é esta produção de tipo industrial para benefício de um grupo relativamente pequeno. O salmão de aviário tem um impacto em termos de emprego muito menor que o salmão natural. A aquicultura intensiva de salmão é explorada sobretudo pelas multinacionais, e emprega muito pouca mão de obra. Não vale a pena colocar em risco a sobrevivência das espécies selvagens para satisfazer a ganância das multinacionais.
Eu não aprecio salmão, peixe para mim é a sardinha, o sável, ou a lampreia. Se gostam de salmão, comam-no mas, por favor, apenas aquele que é apanhado na natureza.
Nota: Um dos autores do estudo, o doutor Ransom Myers, morreu em Março do ano passado. Era uma das vozes mais importantes nas questões relativas à conservação dos oceanos.
Ficha técnica
Imagem de alevim de salmão cortesia de Uwe Kils, via Wikimedia Commons
Referências
(ref1) Ford JS, Myers RA (2008). A global assessment of salmon aquaculture impacts on wild salmonids. PLoS Biol 6(2): e33. doi:10.1371/journal.pbio.0060033
segunda-feira, fevereiro 11, 2008
Salmão de aviário? Não, obrigado
Por CDG laço permanente
Etiquetas: Biologia
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1 comentários:
Salmão de AVIÁRIO? lolada.. Viveiro, não? Aquário, vá lá.. AVIÁRIO? Ah, já sei.. são aqueles salmões que têm asas! -_-'
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