terça-feira, setembro 04, 2007

Variabilidade climática e alterações climáticas

O Instituto de Meteorologia divulgou recentemente as médias de temperatura para os meses de Junho, Julho e Agosto. Confirmam aquilo que me tinha sido dito por quase toda a gente (estive fora a maior parte deste período). Este verão foi, em Portugal, relativamente frio e chuvoso. [... ler mais]


Tmed (°C)

Tmax (°C)

Tmin (°C)

Verão 2007

20.7

27.0

14.3

Normal 1971-2000

21.2

27.5

14.9


O comunicado refere então:
O Instituto de Meteorologia, I. P. informa:

O Verão (Junho, Julho e Agosto) de 2007 apresentou as temperaturas médias do ar mais baixas dos últimos 20 anos, em Portugal Continental, situando-se cerca de 0,5º C abaixo do respectivo valor médio do período 1971-2000. Quando comparadas as temperaturas médias registadas neste verão com as médias verificadas neste século, de 2001 a 2006, a diferença atinge -1,9 ºC em termos médios, sendo que o Verão de 2007 pode assim ser considerado o menos quente desde o início deste Século.

O ênfase é do próprio Instituto de Meteorologia. Note-se que este valor surge em contraponto aos anos anteriores
Desde 1931 (ano de início da série de registos climatológicos), 4 dos 5 verões com temperaturas médias mais elevadas ocorreram igualmente no presente Século, tendo os Verões de 2003 a 2006 sido excepcionalmente quentes, com desvios da temperatura média superiores a 1,7º C.

Estes valores são particularmente importantes porque os meios de comunicação começaram com a lenga-lenga do costume a tentar assustar as pessoas. Como o Instituto de Meteorologia refere mais adiante:
Em resumo, dir-se-á que a caracterização do Verão de 2007 enquadra-se perfeitamente na variabilidade climática observada em Portugal continental e não confirma alguns cenários de tempo excepcionalmente quente adiantados em Maio na imprensa nacional, os quais foram aliás logo na ocasião desmentidos pelo IM, em comunicado difundido no dia 11 desse mês.

Uma coisa que me incomoda na forma como a comunicação social aborda o clima é exactamente a confusão que estabelece no espírito das pessoas a respeito do curto e do médio prazo. O clima no seu sentido mais usual é uma média ao longo de decénios, em geral 30 anos. Um ano, ou mesmo dois ou três não servem para estabelecer tendências no clima de uma dada região, a variabilidade do sistema climático é muito elevada. Dois ou três anos de calor não significam aquecimento a nível regional, tal como dois ou três anos mais frios não significam arrefecimento. É a tendência dos valores se manterem preferencialmente acima ou abaixo da média de um período anterior de igual duração que indica possíveis alterações no clima.

1 comentários:

João Carlos disse...

Não é de estranhar que o "grande público" se alvoroce com qualquer pequena variação climática, uma vez que os periódicos estão o tempo todo a tentar nos roubar o sono, com o "aquecimento global" e pesadelos climáticos.

Por falar nisso, o tema do "Roda de Ciência" deste mês trata, exatamente, da "importância em se divulgar a incerteza" dos estudos científicos. Eu já meti lá um artigo a título de provocação...