Esta criatura a ser alimentada com bocados de lula é uma moreia, da especie Muraena retifera. As moreias são predadores relativamente bem sucedidos, existindo cerca de 200 espécies destas criaturas com má reputação e um aspecto um pouco assustador. Os cientistas acabaram de descobrir um dos segredos desse sucesso. É de certa forma arrepiante, e muito semelhante a algo que muitos dos leitores terão visto nos filmes do Alien. Não, as moreias não saltam de dentro da barriga de outras criaturas, mas é algo igualmente sinistro. Se bem se lembram, a bocarra do Alien tinha uma segunda boca que se projectava vinda da garganta. Pois bem, as moreias possuem algo semelhante. [... ler mais]
O artigo que descreve esta incrível adaptação é da autoria de Rita Mehta e Peter Wainwright e foi publicado na revista Nature (ref1). Numa tradução livre do resumo:A maioria dos peixes ósseos confia em mecanismos de sucção para capturar e transportar presas. Uma vez capturadas, as presas são transportadas pelo movimento da água dentro da cavidade bucal para um segundo conjunto de mandíbulas na garganta, as mandíbulas faríngicas, que manipulam a presa e ajudam na deglutição. As moreias possuem capacidades de alimentação por sucção muito menos eficientes. Dada esta redução num mecanismo de alimentação amplamente espalhado, e altamente conservado em vertebrados aquáticos, não se sabe como as moreias engolem peixes grandes e cefalópodes.
Eis aqui uma imagem de raios-X onde as mandíbulas faríngicas da moreia estão indicadas por uma seta.
Eis aqui o aspecto das mandíbulas interiores sem os outros tecidos para atrapalhar:
Ora se a comida não vai ter à segunda boca, as coisas resolvem-se mandando a boca até à comida.Mostramos aqui que a moreia (Muraena retifera) ultrapassa a reduzida capacidade de sucção lançando mandíbulas faríngicas a partir da sua garganta para dentro da sua cavidade oral, onde as mandíbulas agarram a presa animal que se debate e transportam-na para dentro da garganta e esófago. Este é o primeiro caso descrito de um vertebrado que utiliza um segundo conjunto de mandíbulas para simultaneamente imobilizar e transportar presas, e é a única alternativa ao transporte hidráulico de presas relatado nos peixes teleósteos.
A acção pode ser apreciada no conjunto de imagens abaixo. Notem bem a coisa branca que vem de dentro e puxa o bocado de lula garganta abaixo.
O resto do processo faz lembrar bastante o engolir das cobras. Esta inovação da moreias pode explicar parte do seu sucesso ecológico. Claro que depois de ler este artigo uma das minhas prioridades para os próximos tempos é arranjar uma moreia para me dedicar a uma pequena dissecação.
Referências
(ref1) Rita S. Mehta & Peter C. Wainwright (2007). Raptorial jaws in the throat help moray eels swallow large prey. Nature 449, 79-82. DOI:10.1038/nature06062.
quarta-feira, setembro 05, 2007
Quando uma boca não chega puxa-se outra da garganta
Por CDG laço permanente
Etiquetas: Biologia
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