quarta-feira, maio 10, 2006

Os caracóis voadores, anjos que caçam borboletas

O Censo da Vida Marinha é uma rede de investigadores de 70 países que estudam a diversidade, distribuição e abundância da vida marinha. Os últimos resultados desse estudo acabam de ser publicitados (pdf), incluindo a sequenciação genética de 220 espécies de zooplâncton encontradas entre 1 e 5 km de profundidade. As fotos destas criaturas, muitas delas com dimensões de alguns milímetros ou inferiores, são espectaculares. Um dos grupos que me chamou mais a atenção foram espécies de caracóis nadadores, um grupo designado por pterópodes. Exacto, ptero como em algo que tem asas. [... ler mais]

De facto esses animais fazem jus ao nome pois "voam" através das águas com as suas "asas". Essas "asas", mais correctamente chamadas parapódios, são homólogas aos tradicionais pés dos outros gastrópodes. Podem ver-se em baixo mais algumas espécies destes peculiares caracóis alados.


Na verdade estas fantásticas criaturas formam dois grupos distintos. O primeiro são os Thecosomata, também chamados "borboletas do mar", que possuem concha calcária e são em geral herbívoros, capturando o fitoplâncton com auxílio de uma espécie de rede de muco. Um exemplo é a Cuvierina columnella, que se mostra abaixo em duas poses, uma retraída na sua concha, e noutra mais activa com as suas "asas" de fora. Esta espécie é extremamente comum, incluindo nos mares do Brasil, como descobri num artigo na Revista Brasileira de Zoologia (ref1), de Maria Eduarda de Larrazábal e Valdeni Soares de Oliveira.



O outro grupo de pterópodes são os Gymnosomata, os "anjos do mar". O nome engana, estas criaturas são predadores ferozes. Na verdade muitos grupos de Gymnosomata são especialistas em perseguir e capturar as pacíficas borboletas do mar. Os anjos marinhos não possuem concha, apresentam asas semelhantes aos outros pterópodes, e um orgão bucal adequado a capturar e devorar as suas infelizes presas, com ganchos, glândulas pegajosas, tentáculos e mesmo ventosas. São também muito fotogénicos, como se pode ver pelo exemplo da Crucibranchaea macrochira que se mostra aqui ao lado.

Referências
(ref1) Maria Eduarda de Larrazábal; Valdeni Soares de Oliveira (2003). Thecosomata e Gymnosomata (Mollusca, Gastropoda) da cadeia Fernando de Noronha, Brasil. Rev. Bras. Zool. vol.20 no.2. Laço HTML.

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