sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Primos não muito afastados

Não, nenhum elefante foi magoado ao tirar estas fotografias, e a imagem não é tão macabra como parece. O elefante asiático, Elephas maximus, está apenas a limpar o olho e não a chorar a perda de um dos seus membros. Aliás, a perna da esquerda nem pertence a um elefante asiático. Trata-se da reconstrução da perna de um Mammuthus primigenius, mais conhecido por mamute lanudo, e foi baseada em achados com 33,750 anos. [... ler mais]

O achado original que se mostra aqui à esquerda tinha na verdade um aspecto muito mais ressequido. As condições de conservação desta perna, encontrada no nordeste da Sibéria em 1986, eram contudo suficientemente boas para que ADN mitocondrial pudesse ser extraído dos músculos e não apenas do osso como é mais habitual. Foi isso que fizeram Rogaev e colegas, que publicaram os resultados no PLoS Biology (ref1). Numa tradução livre do resumo:

As relações filogenéticas entre o mamute lanudo (Mammuthus primigenius), e os elefantes asiático (Elephas maximus) e africano (Loxodonta africana) permanecem por esclarecer. Relatamos aqui a sequência completa do genoma mitrocondrial (16,842 pares de bases) de um mamute lanudo extraído do restos preservados em permafrost da época do Pleistoceno, a sequência mitrocondrial mais antiga determinada até à data.
Os últimos meses têm sido ricos em estudos genéticos de restos de mamutes, mas esses estudos têm recorrido a fragmentos relativamente menores, este estudo baseia as suas conclusões no genoma completo das mitocôndrias. As mitocôndrias são pequenas estruturas que existem no interior das nossas células (bem como dos outros animais e plantas) que têm um papel fulcral na respiração. São herdadas apenas da mãe e possuem o seu próprio código genético relativamente simples mas que é suficiente para determinar relações de parentesco na linha materna. O facto de possuirem uma sequência completa e de boa qualidade permitiu aos investigadores determinar o parentesco entre o mamute e as espécies de elefante usando amostras de ADN mitocondrial desses animais. Voltando ao resumo:
A reconstrução da filogenia do clâ Elephantinae sugere que M. primigenius e E. maximus são espécies irmãs que divergiram um pouco depois do seu antecessor comum se ter separado da linhagem L. africana.
Ou seja, se voltássemos atrás no tempo encontraríamos um período em que os antecessores do mamute e do elefante asiático fariam parte da mesma espécie, mas os antepassados do elefante africano seriam já uma espécie separada. Os mamutes lanudos eram portanto realmente apenas elefantes com abundância de pêlo. Em jeito de despedida mais uma fotografia de um elefante asiático, que esperemos não siga o caminho do seu primo lanudo: a extinção.


Referências
(ref1) Rogaev EI, Moliaka YK, Malyarchuk BA, Kondrashov FA, Derenko MV, et al. (2006). Complete Mitochondrial Genome and Phylogeny of Pleistocene Mammoth Mammuthus primigenius. PLoS Biol 4(3): e73. Laço DOI.

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