terça-feira, fevereiro 07, 2006

Os camarões do antártico

A criatura de hoje não é tão sinistra como as que apareceram nas contribuições mais recentes. Com o nome científico de Euphausia superba, mais conhecidas pela designação norueguesa de krill, estas pequenas criaturas (cerca de 6cm de comprimento) são a espécie animal com maior sucesso à face da Terra. Estima-se que a biomassa do krill do antártico ande algures entre 125 a 725 milhões de toneladas. Muitas pessoas conhecem o krill apenas porque se trata do alimento preferido de algumas espécies de baleias e focas. Na verdade estes minúsculos parentes dos camarões são muito importantes para o equilíbrio do planeta, e não apenas uma abundante fonte de alimento para animais maiores. [... ler mais]

Embora a dieta destas criaturas possa ser algo variada incluindo pequenos seres que fazem parte do zooplâncton, e até outros membros da sua espécie, o krill alimenta-se sobretudo de infímas diatomáceas (20 micrómetros), que filtra através de uma espécie de cesto que forma com as seis patas dianteiras. Para além de pescar as algas na água o krill pode também raspá-las nas camadas de gelo que cobrem os mares do antártico, deslocando-se em zique-zague como um minúsculo cortador de relva. O krill é um comensal com fracas maneiras à mesa, cuspindo frequemente gandes agregados de algas a que os cientistas chamam "bolas de cuspo". Um dos aspectos mais interessantes dos hábitos alimentares do krill é que a eficiência do processo digestivo é relativamente baixa e uma grande quantidade de carbono é retida nas fezes e libertada juntamente com as carapaças das diatomáceas. Quer os pequenos tubos de fezes quer as bolas de cuspos são pesadas e afundam rapidamente, transportando grandes quantidades de carbono que se vão depositar nos sedimentos do fundo do oceano a profundidades de alguns quilómetros, onde ficam sequestrados por períodos da ordem de 1000 anos. O krill tem assim uma importância fundamental no ciclo do carbono terrestre, pois se as algas forem consumidas por outras criaturas marinhas o carbono fica à superfície. Ora muitos dos aspectos do comportamento do krill e deste mecanismo de reciclagem do carbono ainda são mal compreendidos.

Um artigo recente (ref1), saído no Current Biology, da autoria de Geraint tarling e Magnus Johnson, mostra um aspecto curioso nos hábitos alimentares do krill. Após se empaturrarem de diatomáceas à superfície os minúsculos camarões deixam-se afundar até grandes profundidades, onde completam a digestão, libertam os seus tubinhos de fezes e voltam à superfície para se alimentarem de novo. Este novo estudo mostra que no processo de vaivém o krill trasporta muito mais carbono do que se pensava, sendo uma espécie muito mais importante para o equilíbrio global do planeta do que se suspeitava.

Ficha técnica
Imagens de muito maior resolução, em que pormenores do corpo da criatura podem ser facilmente vistos, encontram-se disponíveis na internet, cortesia de Uwe Kils.

Referências
(ref1) Geraint A. Tarling, and Magnus L. Johnson (2006). Satiation gives krill that sinking feeling. Current Biology, Volume 16, Issue 3, Pages R83-R84. Laço DOI.

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