sexta-feira, janeiro 25, 2008

Protegido no dia-a-dia graças ao bom cheirinho a cobra

Este chocalho na ponta da cauda pertence a uma Crotalus atrox, uma espécie de cascavel que não desdenharia um suculento esquilo, caso algum passasse por perto. Falei aqui, recentemente, do que poderia ser a descoberta de uma nova estratégia de defesa dos esquilos terrícolas contra as cascaveis. Essa estratégia consistia em mascar pele de cobra, e em seguida lamber o pêlo, imbuindo-o do bom cheirinho a cascavel. Os autores apoiaram essa hipótese no facto dos animais mais vulneráveis (fêmeas e esquilos juvenis) aplicarem o odor com muito maior frequência que os machos adultos. Isso é evidência indirecta e, para conseguir uma resposta mais conclusiva, era preciso observar o efeito sobre as cascaveis. Ora, a mesma equipa de autores do artigo anterior, fez exactamente isso, testou a reacção das cobras. [... ler mais]

O estudo é da autoria de Barbara Clucas, Donald Owings e Matthew Rowe e foi publicado na revista Proceedings of the Royal Society B (ref1). Numa tradução livre do resumo:

Os esquilos terrícolas (Spermophilus spp.) evoluiram uma bateria de defesas contra as cascaveis (Crotalus spp.), que os têm predado ao longo de milhões de anos. Mostrou-se recentemente que as reacções comportamentais características destas esquilos às cascavéis incluem a aplicação do odor da cascavel — os esquilos aplicam o cheiro lambendo vigorosamente o pêlo após mastigarem mudas de pele de cascavel. Apresentamos aqui evidência de que este comportamento é uma defesa antipredador inovadora fundada na exploração de um odor estranho. Testámos três hipótese funcionais para a aplicação do cheiro a cobra — anti-predação, afastamento de congéneres, e defesa contra parasitas externos — ...

Até aqui tudo parece igual ao artigo anterior, mas desta vez o objecto do estudo incluia as cobras e pulgas:
... examinando as reacções das cascaveis ao odor de cascavel, esquilos terrícolas e parasitas externos (pulgas). As cascaveis eram mais atraídas para o odor a esquilo terrícola que ao odor a esquilo misturado com o cheiro a cascavel ou apenas ao odor a cascavel. Contudo, o comportamento dos esquilos terrícolas, e a escolha de hospedeiros pelas pulgas, não foram afectados pelo cheiro a cascavel. Logo, os esquilos terrícolas podem reduzir o risco de predação pelas cascaveis aplicando o odor nos seus corpos, potencialmente como uma forma de camuflagem olfactiva. A exploração oportunista de odores heterospecíficos pode ser um fenómeno alargado; muitas espécies aplicam odores estranhos, mas apenas nuns poucos casos se demonstrou servirem na defesa contra predadores.

Camuflagem olfactiva, o que os animais fazem para evitar serem comidos. Dois artigos tão próximos, parece-me que os autores já sabiam a resposta à especulação que propunham no outro artigo.


Ficha técnica
Imagem de Crotalus atrox cortesia de Gary Stolz para o U.S. Fish and Wildlife Service, a partir da Wikimedia Commons.

Referências
(ref1) Barbara Clucas, Donald H. Owings and Matthew P. Rowe. Donning your enemy's cloak: ground squirrels exploit rattlesnake scent to reduce predation. Proceedings of the Royal Society B. DOI 10.1098/rspb.2007.1421.

1 comentários:

João Carlos disse...

Estou à procura de um expediente semelhante que sirva de repelente a idiotas...

Mas - por motivos óbvios - não pode ser (como o fazem os esquilos) de uso tópico ou interno...