quarta-feira, janeiro 03, 2007

Algumas aves são verdadeiramente filhos da mãe

Antes de mais nada, desejo um Bom Ano a todos os leitores deste espaço. Aproveito também para avisar os leitores habituais de que vou ser muito menos "falador" em 2007. Por motivos de ordem profissional em princípio o Cais de Gaia passará a ser actualizado apenas durante o fim de semana. No próximo sábado ou domingo falarei, como prometido, dos ouvidos das moscas. Contudo, visto que as festividades natalícias só acabam no Dia de Reis, não podia desperdiçar a ocasião para referir um facto curioso relativo a um dos pratos típicos do Natal.


Na minha família o prato tradicional de Natal é o Fiel Amigo, mas muita gente por esse mundo fora, mesmo em Portugal, prefere um suculento e bem assado Meleagris gallopavo. O nome latino da criatura pode não significar grande coisa para muitos leitores, mas seguramente quase todos adivinharam, olhando para a imagem, que se trata de um peru doméstico. O que muitos leitores possivelmente ignoram é que os perus partilham com os dragões de Komodo algo de que falei aqui anteriormente: a possibilidade de nascimentos virgens. [... ler mais]

Por estranho que possa parecer a partenogénese é razoavelmente comum nos perus, embora na maioria dos casos os ovos não sejam viáveis. Essa menor propensão dos "ovos sem pai" para eclodirem acarreta custos económicos que justificam mesmo páginas dedicadas ao assunto no Departamento de Ciências Animais da Oregon State University. Foi aí que descobri factos curiosos e toda uma série de referências sobre o assunto. Embora seja uma ocorrência rara, alguns perus partenogenéticos conseguem sair da casca e atingir a idade adulta. Tal como no caso do dragões, os perus meninos de sua mãe são todos machos, o que tem a ver com um mecanismo genético semelhante para a determinação do sexo: os machos são ZZ e fêmeas ZW.

Pois é, mesmo peruas com vidas recatadas podem ter filhos que não sabem quem é o pai. Quando se é um peru macho, como o que mostra na imagem abaixo, há uma pequena possibilidade de que não se tenha pai, apenas mãe.

Ficha técnica
Imagens de perus retiradas da Wikimedia Commons, desta e desta páginas.

3 comentários:

Anónimo disse...

Curioso este facto. Seria de se esperar que a partenogênese gerasse fêmeas que são o gargalo da reprodução de qualquer espécie sexuada.

Por outro lado, há uma certa lógica. Se as fêmeas continuam "castas" é porque estão a faltar machos...

Anónimo disse...

Ah!... Sim!... Desculpe a grosseria...

Um 2007 muito feliz! (Mas tua notícia de que o Cais de Gaia só será publicado aos fins de semana não é alvissareira... Tomara que seja porque estejas muito ocupado com outras formas de disseminar conhecimentos. Mas vou sentir a falta, do mesmo jeito).

Anónimo disse...

o joão carlos é bom no português! eu, que tenho treino gratuito diário, não consigo...
adorei aprender sobre a partenogênese dos perus, não tinha idéia! fiquei imaginando o desgosto dos pobres machos, que se esforçam tanto para atrair a atenção das donzelas e no fim se vêem dispensáveis...
vocês já viram a corte dos perus? um colega meu no doutorado estudava perus selvagens na califórnia e com isso pude observá-los longamente, nas campinas californianas. é muito impressionante e me leva a discordar do joão carlos: nesse caso tenho dúvidas de que as fêmeas sejam o gargalo da reprodução...